Chico Buarque, durante a ditadura militar – mais precisamente durante os anos de 1974 e 1975 – usou o pseudônimo de Julinho da Adelaide para enganar a censura.
Como entra muita gente jovem aqui que não “pegou” essa época, eu vou explicar primeiro o que era a censura, para que possam entender o porquê do Chico ter criado esse pseudônimo, que veio até a se tornar um personagem.
A censura para os compositores funcionava mais ou menos assim: o sujeito compunha uma música, ela era enviada para os censores, que analisavam e decidiam se podiam ser gravadas e tocadas em shows ou não. Se eles encontrassem qualquer menção política desfavorável à ditadura ou à moral e bons costumes, a música era proibida de ser veiculada. Dependendo do artista, se este já fosse visto como um “contestador do regime”, a coisa complicava, pois seu texto seria lido ao contrário, virado pelo avesso, para ver mesmo se não continha nada de “errado”.
E era justamente isso que estava acontecendo com o nome de Chico Buarque. De cada três músicas que ele enviava para a censura, uma era censurada. Foi então que ele resolveu assinar como Julinho da Adelaide, tendo três composições que fatalmente cairiam na “malha fina” da censura, liberadas. Foram elas as músicas “Acorda Amor” (1974), “Jorge Maravilha” (1974) e “Milagre Brasileiro” (1975).
A letra de Jorge Maravilha, por sinal uma das minhas preferidas do Chico, é inteligentíssima. Nela, ele canta os versos “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, que parece uma coisa bobinha, falada por algum adolescente, mas se esconde por trás desses versos a seguinte história: Chico Buarque, ao ser detido certa vez, teve o autógrafo pedido por um dos agentes de segurança dentro do elevador, dizendo ser para a filha. Então, o verso “bobinho” do adolescente rebelde que fala para o pai da moça que ele não gosta dela, mas que a filha gosta, na verdade teria o irreverente sentido de “os ditadores não gostam de mim, mas suas filhas gostam”. Genial, não???
Não Bastasse Chico criar o pseudônimo, Julinho da Adelaide viraria personagem, após uma entrevista concedida ao amigo, jornalista e escritor, Mário Prata. Entrevista publicada no “Jornal Última Hora”, onde, malandramente, Julinho é o inverso de Chico Buarque. Tem entre suas características ser a favor da censura e ter cursado apenas o ginasial, além de não ler jornais ou revistas. Tudo isso para ganhar simpatia dos censores, pois além de ser abertamente a favor da ditadura, não tinha estudo, e como pode uma pessoa que não tem estudo, além de ser alienada, ter opinião formada contra a ditadura? E foi assim que Chico Buarque conseguiu driblar a censura nos anos de 1974 e 1975.
Curiosidade: A censura no Brasil permaneceu até 1988. A música “premiada” como a última a ser censurada foi “Batman”, do segundo LP da banda “Garotos Podres”.
3 comentários:
Cara...a vida é assim, um junção de encontros e desencontros, o que no início era lindo e determinante,logo após pode ser feio e mais determinante ainda. assim são os casamentos, os acordos, os romances...umalinha tênue entre encontros e desencontros, satisfação de necessidades e desejos e insatisfações...legal seu ponto de vista , sua escrita crítica e poética...parabéns...
Será recomendado por nós que estamnos em www.malditafutebolclube.blogspot.com;;;abraços
E a política censora era isso...acorodos edesacordos, para estar na "Linha" era preciso estar de acordo...
Como colocou rádio nas opções de seu blog?
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