Brasil na Copa da Espanha (1982) x Brasil na Copa da Alemanha (2006)

Nem tudo são flores, não é mesmo? Pois bem, então vou falar da copa de 1982. Tá certo que falarei com uma espinha na garganta, mas uma espinha com carne de peixe, até certo ponto saborosa.

Perdemos a copa. Ficamos com tal espinha na garganta e de lambuja levamos um chocolate da Itália. Mas, a tal carne saborosa na ponta da espinha é o futebol apresentado pelo Brasil. Não é à toa que essa seleção é lembrada até hoje como uma das melhores de todos os tempos.

Eu era novo na época – uma criança, mas me recordo do Laranjito pintado nos muros e no chão das ruas. Laranjito era o mascote da Copa, realizada na Espanha. Lembro da comoção nacional. Lembro do choro da desclassificação. Lembro do Waldir Péres sendo chamado de frangueiro até a 5ª geração. Era como se o tataravô dele fosse dono de um aviário. Lembro do Cerezo sendo malhado como Judas, por ter traído a Seleção não com um beijo, mas com um passe displicente. Lembro do Paolo Rossi, aliás, lembro, lembro e lembro. Pois é, três vezes Paolo Rossi. Mas também lembro do Falcão com as veias do braço estufadas, correndo, após marcar um gol. Lembro dos toques de calcanhar do Sócrates, da genialidade do Zico, dos “chutaços” do Éder e da categoria de Júnior e Leandro.

Perdemos a Copa, mas ganhamos respeito. Perdemos um jogo, mas saímos reconhecidamente como os melhores do mundo. Mesmo levando três gols do Paolo Rossi saímos de cabeça erguida. Todos viram aquilo como um “acidente de percurso”.

Agora vamos entrar na máquina do tempo, sair um pouco do passado distante e viajar para um passado mais próximo. Vamos falar um pouquinho da Copa de 2006. Falar de 2006 não é nem falar com uma espinha na garganta, e sim, falar com o peixe inteiro entalado, cru, se debatendo e com escama. Fala sério, né?!?! Aquela seleção tinha tudo pra dar show, e caso perdesse, sair consagrada e de cabeça erguida, como saiu a de 82. Mas não, ao contrário disso, saímos como os “mascarados”. Sinceramente, não lembro nem qual o mascote desta famigerada Copa. Bom, pra finalizar, já que vocês devem estar cansados de ler nostalgia por hoje, viva o futebol ofensivo, destemido e poético de Telê Santana e companhia, e abaixo ao futebol medroso, digno de uma produção medíocre de cinema “ficção-trash”, apresentado pelo “quarteto fantástico” e seus coadjuvantes. Como dizia Raul Seixas, o problema é muita estrela pra pouca constelação...